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Relatos

       

Referências:

 

1. Breton JJ, Huynh C, Raymond S, Labelle RJ, Bonnet N, Cohen DJ, Guilé JM, Prolonged hallucinations and dissociative self mutilation following use of Salvia divinorum in a bipolar adolescent girl, Journal of Substance Use 15:2 (2010), 113-117

 

2. Przekop P, Lee T, Persistent psychosis associated with salvia divinorum use, The American Journal of Psychiatry 166:7 (2009), 832

 

3. Winslow M, Mahendran R, From divination to madness: features of acute intoxication with Salvia use, Singapore Medical Journal 55:4 (2014), 52-53

 

4. Prisinzano T, Psychopharmacology of the hallucinogenic sage Salvia divinorum. Life Sciences 78 (2005), 527–531 

 

5. Grudmann O, Phipps SM, Zadezensky I, Butterweck V, Salvia divinorum and salvinorin A: an update on pharmacology and analytical methodology,  Planta Medica 10 (2007), 1039–1046 

 

6. Braida D, Limonta V, Capurro V, Fadda P, Fadda P, Rubino T, Mascia P, Zani A, Gori E, Fratta W, Parolaro D, Sala M, Involvement of kappa-opioid and endocannabinoid system on salvia A-induced reward, Biological Psychiatry 3 (2008), 286–292

Histórico: Marylin de 17 anos, diagnosticada com transtorno bipolar tipo I e Transtorno de Personalidade Borderline. Apresentava tendências suicidas, automutilação, alucinações, insónias e irritabilidade. Estava a ser medicada para controlo dos distúrbios, embora muitas vezes interrompesse o tratamento farmacológico.

 

Experiência reportada após consumo: Marylin ficou surpreendida porque não sentiu os efeitos da Salvia divinorum. Contudo, 3h depois, quando se estava a deitar começou a experienciar sentimentos de desrealização com alucinações visuais, auditivas, olfativas  e corporais aterrorizantes. Tudo era irreal, com o chão a mexer-se como se fosse a superfície da água e vozes vindas da mobília. Viu pessoas mortas, ouviu gritos e gemidos e sentiu o cheiro a queimado e a respiração de alguém junto ao seu pescoço. As alucinações continuaram no dia seguinte e pioraram durante a tarde e a noite. Foi para a cama com os olhos ainda abertos (não conseguia dormir) e teve um “blackout”. Quando acordou viu sangue nos lençóis e tinha vários cortes no antebraço esquerdo  e no abdómen, apercebendo-se que se tinha automutilado durante noite mas que não se lembrava de o ter feito. As alucinações e os pensamentos suicidas diminuíram progressivamente ao longo dos 4 dias seguintes. Recuperou completamente uma semana depois do episódio, voltando ao seu estado normal.

 

Discussão: O caso de Marylin é pouco comum devido à longa duração dos efeitos psicóticos da alucinação. Esta adolescente apresentou um estado psicológico dissociativo, com comportamentos autodestrutivos no dia seguinte ao consumo da substância. Não foram encontrados outros casos na literatura, que descrevessem efeitos de tão longa duração decorrentes do uso de S. divinorum. A bipolaridade e consequentes efeitos da mesma na paciente, tornaram-na um alvo suscetível e mais vulnerável. Além disso, a medicação psicotrópica atual (compostos com afinidade para recetores alfa-adrenérgicos, da dopamina e serotoninérgicos) pode ter contribuído para a intensa e prolongada reação. Os mecanismos de neurotransmissão envolvidos são difíceis de elucidar. A adaptação neuroquímica do sistema dopaminérgico e seus recetores, relacionada com a cronicidade da medicação psicotrópica, pode ter contribuído para o efeito alucinogénio prolongado. Desta forma, a medicação psicotrópica é considerada um fator de risco para o desenvolvimento de complicações associadas ao consumo de alucinogénios. Torna-se de fato evidente que o uso de S. divinorum para fins recreativos pode resultar em sérias complicações psicológicas em indivíduos vulneráveis. Um estado dissociativo envolvendo comportamentos autodestrutivos concomitante com o consumo de salva apresenta consequências desastrosas. É de extrema importância uma discussão racional sobre a legalização do consumo de S. divinorum em muitos países. [1]

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Histórico: “Sr.J.“, homem de 21 anos sem história psiquiátrica pessoal ou familiar nem alterações laboratoriais, relatou ter comportamentos, capacidades cognitivas e interações sociais normais. Foi transferido para a unidade psiquiátrica devido a uma psicose aguda e paranoia, que ocorreram pouco depois de ter fumado Salvia divinorum. Durante o transporte, o paciente tornou-se desconfiado e tentou saltar do veículo. No hospital, apresentava ecolalia, paranoia, discurso acelerado sem lógica e agitação psicomotora. O doente manteve-se agitado durante os dois primeiros dias de internamento, tentando barricar-se no seu quarto. Foi administrada Risperidona (3 mg, 3x/dia, via oral) e o paciente acabou por estabilizar. Contudo, a medicação provocou sintomas parkinsónicos como rigidez, bradicardia e hipomímia. A administração de Risperidona foi gradualmente reduzida, o que levou a melhorias no doente que apresentava mais discernimento e pensamento lógico. Participou em terapia de grupo e as manifestações parkinsónicas diminuíram. Um dia após a remoção do fármaco, os sintomas voltaram abruptamente, tornando-se agitado, paranoico e agressivo, acreditando que conseguia transmitir e ler pensamentos. Voltou à ala psiquiátrica onde foi tratado com Risperidona (3mg, 2x/dia, via oral). Depois de estabilizado, foi transferido para o hospital psiquiátrico para tratamento. Após 4 meses, o paciente não mostrava melhorias percetíveis.

 

Discussão: Até onde se sabe, este é o primeiro caso onde se observou efeitos negativos persistentes após uso de Salvia divinorum. Suspeita-se que o paciente tivesse predisposição genética para esquizofrenia e a planta precipitou as manifestações clínicas. Isto pode estar relacionado com a capacidade da salvinorina A de influenciar os níveis de dopamina no cérebro e potenciar alterações plásticas no lóbulo frontal. Alguns estudos apontaram a Salvia divinorum como um opção no tratamento de doenças do SNC. A capacidade da Salvia divinorum de aumentar os níveis de dopamina no núcleo de accumbens aumenta o seu potencial para causar dependência. Os profissionais de saúde devem estar cientes que o uso de Salvia divinorum pode estar associada a doenças psicológicas. [2], [4], [5], [6]

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Histórico: O paciente, homem de 30 anos, comprou S. divinorum através de um site de Internet, onde era vendida como fertilizante e rotulada segundo “potência” – 0, 5, 10 e 20. Fumou uma pequena quantidade de erva potência “10” e experienciou alucinações visuais e auditivas vívidas que duraram 12-14 minutos. As alucinações incluíam uma presença feminina no quarto, experiências paranoicas com objetos inanimados – a mobília ganhou vida, falava e andava pelo quarto. Também viu fantasmas que falavam com ele e sentiu um medo extremo. A sua consciência manteve-se intacta durante todo o episódio. Apesar disso, o paciente decidiu experimentar fumar Salvia divinorum de potência “0”, meia hora depois, com o intuito de obter o efeito psicótico sem as alucinações. Contudo, voltou a ter os mesmos sintomas, com intensidade e duração semelhantes. O indivíduo descartou todas as embalagens. Não foram reportados efeitos posteriores e, a longo prazo,  não experienciou nenhum distúrbio percetível após o uso da Salvia divinorum. Apesar de já ter história de abuso de drogas, nunca tinha experienciado sintomas psicopatológicos similares com outras drogas. 

 

Discussão: Este parece ser o primeiro relato de uma experiência alucinatória associada ao uso de Salvia divinorum. Manifestações psicológicas em intoxicações agudas ainda não tinham sido reportadas, provavelmente porque são muito breves. Para além disso, os profissionais de saúde podem estar pouco familiarizados com os novos produtos usados, como é o caso da Salvia divinorum. Os pacientes podem não mencionar voluntariamente o uso destas substâncias ou os efeitos sentidos se não forem especificamente questionados. A salvia vendida como fertilizante  ao paciente poderá ter sido adulterada ou modificado por processamento, o que poderá ter contribuído para os efeitos psicológicos. Com base nos episódios relatados, a Salvia divinorum rotulada com diferentes potências poderá ser o mesmo produto, apenas rotulado de forma diferente por questões económicas. A substância fumada pelo paciente não foi analisada, mas o rápido início de ação e a curta duração dos sintomas está de acordo com o perfil farmacocinético da Salvinorina A. Este caso destaca os sintomas agudos que os consumidores podem experienciar após o uso de substâncias aparentemente inofensivas. [3]

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Trabalho realizado no âmbito da disciplina de Toxicologia Mecanística no ano lectivo 2014/2015 do Curso de Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP). Este trabalho tem a responsabilidade pedagógica e científica do Prof. Doutor Fernando Remião do Laboratório de Toxicologia da FFUP 

 

Daniela da Silva Figueiredo | nº 201103620

Jéssica Marisa Bastos Cabral | nº 201106225

João Nuno Rodrigues Azevedo | nº 201102507

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